Para
Henrique tudo era novidade. Isso aconteceu há muito tempo atrás, quando a
maioria das conexões com a internet eram discadas. Eram lentas e terríveis, mas
o som da placa Fax modem havia
cativado os ouvidos atenciosos do rapaz que, para se conectar um pouco com o cyberspace, precisava esperar pelo fim
do expediente.
Seu chefe
não se incomodava, pelo contrário, às vezes o constrangia vendo suas conversas
por cima de seu ombro com algumas risadas esporádicas e comentários aleatórios.
Aquilo incomodava Henrique, mas, aquele universo era por demais fantástico para
deixar algo como aquilo o incomodá-lo a ponto de desconectar.
– Você já
pensou em ser psicólogo, Henrique? – Perguntou seu chefe certa vez. – Você leva
jeito conversando com as pessoas.
Ele apenas
acenou com a cabeça, sem dar muita atenção, agora estava conversando com uma
garota que aparentemente parecia bem interessante e que, aparentemente havia
gostado dele da mesma forma. Seu chefe ficou excitado com aquela pessoa também
e a cada frase trocada ele se aproximava cada vez mais, Henrique começava a
sentir aquele bafo quente em seu cangote. Algo que o incomodava, mas por causa
da hierarquia e pelo fato de estar na empresa, depois do expediente e ainda
navegando na internet...
Por sorte,
seu chefe acabou indo até a cozinha e, inesperadamente a garota com que
conversava disse que tinha que ir embora, o que deixou Henrique ligeiramente
chateado.
– Ah, que
pena... – Confessou Henrique. – A conversa estava tão bacana...
– Tb achei. – teclou a garota de onde quer
que ela estivesse. – Mas está ficando
tarde e tenho que ir, mas... – Henrique olhou pela primeira vez no relógio
do computador e assustou-se com as horas. Não tinha nem notado que a garota
ainda lhe respondia. – Então... Tá afim
de continuar conversando? Um pouco só tá... Toma cerveja? Me encontra em tal
barzinho na estação Armênia. Até lá.
Quando
Henrique voltou os olhos para a tela, já era tarde, ela já havia saído da sala.
O que ele fez logo nos próximos segundos. Desligou o computador, se despediu de
seu chefe que o olhara sem saber o que estava acontecendo e logo, Henrique
estava pegando o metro para seu primeiro encontro via internet. Como era o
primeiro, nem pensava na possibilidade das coisas não serem como imaginava,
tudo que sentia era aquele rufar de tambores no peito.
Conseguiu
chegar ao bar depois de meia hora e, depois de uma ligeira olhada, avistou a
garota da internet sentada em uma das mesas. Não tinha como errar, por ser
plena segunda-feira, o bar estava completamente deserto, a não ser por ela.
Henrique entrou, se apresentou e esperou o convite para se sentar, o que ela
fez logo após dar uma olhada atenta para ele.
– Obrigado
pelo convite. – Disse Henrique para quebrar o silêncio, ambos se olhavam, ambos
haviam curtido o que viram. – Espero não ter demorado tanto para chegar...
Trabalho um pouco longe daqui.
– Sem
problemas. – Respondeu a garota de cabelos e olhos negros. – Mas não poderei
demorar muito, ou seja, duas cervejas no máximo, tudo bem?
Henrique
concordou, não havia muito para ser dito naquele momento, ou estava realmente
com pressa ou usara apenas um subterfugio para sair de fininho. Mas, decidiu
não se importar com isso e continuou na dele. Na quarta cerveja, a conversa
estava bem animada, então a garota olhou para o relógio e se levantou,
alarmada.
– Meu
Deus... Perdi noção do tempo... Preciso ir.
Henrique
pagou a conta e juntos saíram do barzinho. Era uma noite bem agradável.
– Obrigado
mais uma vez pelo convite. – Disse, Henrique evitando olhar para a garota. –
Foi um ótimo bate papo.
– Sim... –
Concordou a garota para a surpresa do rapaz. – Você foi uma ótima compan... –
Ela se interrompeu, mas logo continuou. – Olha, não costumo fazer isso, mas,
quer ir pra casa? – Henrique arregalou os olhos. – Não pense besteira. É só
para conversarmos mais... Gostei realmente de conversar contigo...
– Tem algum
sofá por lá? – Perguntou Henrique querendo deixar claro sua decisão. Ela
assentiu. – Então eu topo.
– Que
legal. – Festejou a garota. – Mas não é pra fazer nada tá... Só para conversar.
– Enfatizou. E Henrique como era um homem respeitador, anotou em sua mente
aquela observação.
Foram
conversando no caminho inteiro. Não pararam por nenhum momento. Henrique não
sabia onde estava se metendo, mas, talvez da mesma maneira que a garota, ele
simplesmente acabou confiando. Depois de muitos semáforos, minutos, risadas e
alguns olhares nos olhos esporádicos, eis que chegam ao condomínio que a garota
morava. Na conversa, Henrique acabou sabendo que ela tinha um filho, que morava
sozinha e essas coisas.
Ao chegar à
casa da garota, comeram uma pizza, Henrique conheceu alguns parentes que
moravam próximos e que trouxeram a filha da garota. Ela já estava dormindo e
Henrique e a garota ficaram a vontade na sala. Conversavam sobre informática,
sobre as ferramentas da Microsoft, programação e sobre designers.
Depois de
terem visto tudo que podiam no computador, sentaram-se no sofá e a garota
acabou deitando a cabeça no colo de Henrique. Era para ser algo inocente, isto
é, se a garota não estivesse colocado a cabeça sobre quem não podia. Henrique
se empertigou em seu lugar assim que sentiu o adormecido despertando. Puta merda... pensou ele, se ela sentir isso o que vai pensar de mim? Vai
começar a gritar: tarado, tarado e ai estarei perdido de verdade...
Com receio
da reação da garota, Henrique conseguiu se distanciar e, com uma cara de sono,
a garota ergueu-se do sofá e olhou para o rapaz.
– Acho que vou me deitar. – Ela levantou-se,
espreguiçou-se na frente do aliviado rapaz. – Bom, boa noite pra você. Vou trazer
algumas cobertas.
Henrique
respirou aliviado e foi se arrumando no sofá que tinha mais ripas do que
almofadas. A garota retornou de pijama, estava bem mais a vontade com o seu
pijama. Ela parou abraçada nos cobertores e olhou por alguns instantes para
Henrique, estava pensando em algo.
– Não posso
deixa-lo dormir nesse sofá horrível. – Ela virou-se de costas e continuou. –
Você vai dormir na cama comigo, mas... – ela se virou e com um dedo em riste
seguiu com o sermão. – Vai dormir no outro canto da cama, entendeu?
Henrique
assentiu. Ele não estava com interesse nenhum, apesar da acordada inesperada no
sofá, até aquele momento não havia pensado em nada. Ele queria respeitá-la,
ganhar a confiança, ser alguém diferente, enfim... Mentalmente agradeceu pelo
convite, o sofá realmente era muito ruim.
Ele se
deitou de calça e tudo, justamente para não correr risco algum e ainda, para
garantir, meteu a testa e a ponta dos pés na parede. Desejou boa noite para a
garota e ali ficaram por alguns minutos em silêncio. Subitamente, a garota
quebra o silêncio.
– Nossa! Como
essa cama está gelada...
Isso para
qualquer outra pessoa seria o gatilho para se virar no sentido da garota, toma-la
nos braços e beijá-la com volúpia e ardor intencional para se levar para a cama,
mas na cama já estavam, ou seja, era só virar e pronto, mas... Henrique não era
qualquer pessoa e a garota quase havia o feito jurar que não faria nada, foi então
que ele respondeu.
– Tá mesmo
né... Acho que vou voltar para o sofá.
Depois
desta resposta de Henrique, o quarto mergulhou no silêncio e como já era alta
madrugada, ambos acabaram adormecendo. Na manhã seguinte, acordaram atrasados,
a garota estava correndo para um lado para o outro e Henrique acabou tomando um
banho por lá mesmo. Tomaram café e depois de explicar para ele como ir embora,
a garota sem mais nem menos lhe tascou um beijo na boca.
E foi nesse
momento que a ficha de Henrique caiu, mas era tarde demais. Falaram de tudo no
dia anterior só esqueceram-se de trocar e-mails.